AUTOR: José J. Veiga
EDITORA: Bertrand Brasil
Em A casca da serpente o enredo inicia com a fuga do bom Conselheiro com alguns de seus jagunços da guerra de Canudos, visto que não tinham mais como lutar com os soldados republicanos da Bahia, a não ser renderem-se e serem torturados e degolados pelos mesmos. Antônio Beatinho e Bernabé José de Carvalho e demais jagunços pensaram numa fuga estratégica. Foram até o general Arthur Oscar, o que comandava o ataque a Canudos, pedirem redenção, afirmando que seu dirigente estava morto e enterrado. Enquanto isso os outros jagunços teriam mais tempo para fugirem mais para o norte do sertão com o bom Conselheiro, que, na verdade, aqui nesta história ele está apenas doente.
Desse ato de heroísmo desses dois personagens continua o desenrolar da metaficção de forma artística e envolvente que cabe qualificar este grande escritor, José J. Veiga. Este enredo é uma reescritura, um recontar de Os sertões de Euclides da Cunha, podendo ser confirmado na polifonia discursiva que há entre eles.
O desfecho de Os sertões é a morte de Antônio Conselheiro, o jagunço cruel que carregava consigo o estigma do mito messiânico. Morre vitimado de uma disenteria durante as invasões dos soldados republicanos a Canudos. É enterrado a 22 de setembro de 1897. Dia 05 de outubro acaba toda a população daquele arraial. Dia 06 de outubro cai Canudos. Os últimos a morrerem foram em número de quatro pessoas: um velho, dois homens e uma criança. O governo da Bahia encontra o corpo de Antônio Conselheiro enterrado, desenterra-o, corta a sua cabeça e a expõe em praça pública para o delírio de muitos. É tido como romance histórico, enquanto A casca da serpente é caracterizada como metaficção histórica.
As datas não conferem. A casca da serpente inicia em 2 de outubro de 1897, data esta que Antônio Conselheiro já havia morrido e está perto da queda total de Canudos, em Os sertões. São datas que pretendem retratar a autenticidade dos fatos, o que ajuda a criar uma ilusão realista na análise, buscando a verossimilhança nas obras, chamado de Motivação Realista (Tomachevski, 1973, p. 186). Boileau refere-se a essa situação com esta frase: “O verdadeiro pode algumas vezes não ser verossímil”, designando por “verdadeiro” o que tem a motivação realista, e por “verossímil” o que tem uma motivação estética.” (In: Tomachevski, 1973, p. 190) Compreendendo, portanto, que a verdade de uma narrativa, não tem necessidade de ser uma verdade da vida real.
José J. Veiga buscou a guerra e a figura mítica messiânica de Antônio Conselheiro para criar sua ficção a partir desses temas potenciais.
O bom Conselheiro de A casca da serpente torna-se um sertanejo comum que quer criar uma forma de governo diferente da que já existia. Seria um sonho? Talvez. Mas o que é a vida? Ela dura até onde o nosso sonho termina.
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